sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Cúpula Ibero-Americana começa com crítica à austeridade

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CÁDIZ, Espanha


A 22ª Cúpula Ibero-Americana começou ontem com uma crítica à austeridade que caracteriza a política dos dois membros europeus da comunidade (Portugal e Espanha).
"A inevitável austeridade, se estendida no tempo, retarda a recuperação [da economia]", disse Enrique Iglesias, o secretário-geral iberoamericano, com a autoridade de quem tem um enorme percurso na burocracia internacional, com passagens pela Comissão Econômica para a América Latina e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Iglesias lembrou que extraíra essa conclusão da "vivência latino-americana", região que teve sua imensa cota de crises e de receitas de austeridade recomendadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
O presidente equatoriano Rafael Correa, aliás, aproveitou entrevista à TV espanhola para dizer que tudo o que a Espanha deveria fazer para sair da crise é "definitivamente não seguir as receitas do FMI".
Iglesias discursou na cerimônia de abertura ao lado do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, e do rei Juan Carlos, que evitaram menções mais precisas à crise econômica.
O rei nem tocou no assunto, enquanto Rajoy arriscou-se a dizer que "a Espanha de 2012, com suas dificuldades e problemas, é uma nação sólida". Não deixa de ser verdade, mas não é a percepção dos parceiros latino-americanos, todos ansiosos para falar da crise.
O documento final, a ser divulgado hoje, obrigatoriamente consensual, apenas tangencia o assunto.
Sugere promover "políticas contra-cíclicas que permitam manter e incrementar os níveis de atividade econômica e de trabalho decente".
Traduzindo: quando o ciclo econômico é de contração, como está ocorrendo na Europa, deve-se adotar medidas de estímulo ao crescimento, uma tese que a presidente Dilma Rousseff defende junto aos parceiros europeus desde que tomou posse.
Mas o parágrafo ressalva que políticas contra-cíclicas devem ser adotadas "em função dos recursos fiscais disponíveis".
Como os países europeus que mergulharam na austeridade não têm recursos fiscais disponíveis, a recomendação torna-se puramente acadêmica.
De todo modo, o comunicado inclui um segundo item caro a Dilma, a crítica ao chamado "quantitative easing", a política norte-americana de injetar dinheiro diretamente na veia da economia, para reanimá-la.
O texto "rechaça as políticas cambiais que possam ter potenciais efeitos negativos sobre o comércio internacional, assim como administrar com maior rigor o ingresso de fluxos de capitais para evitar a sobrevalorização das moedas locais".